GOSTOS QUE SE FORAM
Tem sabores que se perdem quando perdemos as pessoas que os preparavam.
O nhoque da minha vó Mina. E o seu bolo de castanhas portuguesas.
O requeijão de panela que a vó Dora fazia.
Tanto o gosto quanto vê-la fazer o requeijão era magnífico.
Esperava a colher de pau subir com aquela massa branca densa e firme panela a fora. Ali sabia que era a hora de comer aquele requeijão ainda quente e com açúcar. Tudo era maravilhoso. A massa. O fio. O cheiro. O gosto. A risada da minha avó.
O pudim de leite condensado da Dª Claride. Jamais comi nenhum outro tão bom. Jamais consegui fazer igual. Não adianta a receita é a mesma, mas não a mão.
O molho de macarrão do meu pai. Ficava vendo ele fazer... Mas não adianta, não é igual. Mesmo porque cada dia ele punha alguma coisa a mais. Qualquer ingrediente que estivesse a mão, disponível, ia para dentro da panela. O mais gostoso quando ele cozinhava é que ele convidava mais pessoas para almoçar em casa. O que fazia virar sempre uma festa. Eu gostava disso.
A tia Wanda não cozinhava, era uma mulher das letras e das palavras, mas fazia, ou mandava fazer, um suco para tomarmos em baixo do caramanchão coberto com uma primavera. Ali ficávamos sentados durante muito tempo conversando sobre tudo e todos. A conversa fluía com um gosto de modernidade e um sabor de crescimento.
São tantos os sabores que já nem sei todos de cor.
Só sei que tenho saudades.
Só sei que tem cor de alegria.